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O Reino de Glome, situado nas montanhas da fronteira com a antiga Grécia, é um reino bárbaro que pratica um culto obscuro à cruel deusa do amor, Ungit, e ao seu filho, o deus da montanha, a que os gregos chamam Afrodite e Cupido. Quando Trom, o rei, casa novamente e dessa relação nasce Psique, a sua irmã mais velha, a princesa Orual, está longe de imaginar que esse nascimento irá modificar a sua vida e o curso da história.
«Agora já estou velha e não temo a fúria dos deuses. Não tenho marido nem filhos, nem tão pouco amigos através dos quais me possa prejudicar. O meu corpo, esta massa curvada e decadente, que ainda tem de ser lavado, alimentado e vestido, passa por inúmeras transformações diárias que o poderão matar subitamente.
Estando, por todas estas razões, livre de reeios, irei escrever neste livro tudo aquilo que uma pessoa que é feliz nãos e atreveria a escrever. Vou acusar os deuses, especialmente o deus da Montanha Grey. Vou contar tudo o que ele me fez, como se estivesse a apresentar a minha acusação perante um juiz. Mas não há julgamento possível entre homens e deuses, e o deus da montanha não me dará uma resposta. Terrores e pragas não são respostas. Escrevo em grego tal e qual o meu mestre me ensinou. Pode ser que algum dia um viajante da Grécia se instale neste palácio e o leia. Depois, falará sobre esse juízo com os gregos, entre os quais existe uma grande liberdade de expressão, até sobre os próprios deuses. Talvez os seus lábios saibam avaliar se a minha acusação tem fundamento ou se o deus poderia defender-se, caso me respondesse.» Início do primeiro capítulo de "No Reino de Glome". |
